Zygmunt Bauman - Amor Líquido

Amor Líquido

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Zygmunt Bauman (1925) é um sociólogo polonês com mais de 30 obras publicadas no Brasil. Uma de suas principais contribuições teóricas refere-se à liquidez das relações, o que é cuidadosamente tratado em seu livro Amor líquido. Selecionamos desta obra um pequeno excerto que compõe o primeiro capítulo.

 

Amor Líquido

 

Não importa o que você aprendeu sobre amor e amar, sua sabedoria só pode vir, tal como o Messias de Kafka, um dia depois de sua chegada.

Enquanto vive, o amor paira à beira do malogro. Dissolve seu passado à medida que prossegue. Não deixa trincheiras onde possa buscar abrigo em caso de emergência. E não sabe o que está pela frente e o que o futuro pode trazer. Nunca terá confiança suficiente para dispersar as nuvens a abafar a ansiedade. O futuro é uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável.

O amor pode ser, e frequentemente é, tão atemorizante quanto a morte. Só que ele descobre essa verdade com a comoção do desejo e do excitamento. Faz sentido pensar na diferença entre amor e morte como na que existe entre atração e repulsa. Pensando bem, contudo, não se pode ter tanta certeza disso. As promessas de amor são, via de regra, menos ambíguas do que suas dádivas. Assim, a tentação de apaixonar-se é grande e poderosa, mas também o é a atração de escapar. E o fascínio da procura de uma rosa sem espinhos nunca está muito longe, e é sempre difícil de resistir.

BAUMAN, Zygmunt. Apaixonar e desapaixonar-se. In: ______. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 23.